sábado, 12 de setembro de 2009

Para quem não sabe ou não tem memória!...

Foram os cerca de 14 mil mortos e 50 mil estropiados e deficientes. Foram os cerca de 500 mil africanos barbaramente assassinados, no quadro de uma política de puro genocídio. Foram 300 milhões de contos derretidos na matança.
O suficiente para, no mesmo período, se ter alterado de forma significativa o sistema de ensino, habitacional e de saúde, do nosso país.
Por tudo isto, a Guerra Colonial foi uma fábrica de monstruosidades. Um dos períodos mais negros da nossa História, que o regime fascista impôs ao povo português e aos povos livres e independentes de África.



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Quando os marinheiros portugueses chegaram a África, no século XV, depararam-se com reinos devidamente estruturados do ponto de vista político, económico e militar.
O que os portugueses fizeram durante séculos baseou-se numa ocupação militar de natureza colonialista e dirigida quase exclusivamente para o comércio de escravos.
A exportação de milhões de escravos para as plantações do Brasil e para outros continentes, privou estas sociedades do mais importante elemento de construção económica - o homem.
A chegada dos portugueses interrompeu violentamente o desenvolvimento económico destes povos africanos.
O que os portugueses levaram para África não foi nem a civilização, nem a amizade entre povos, mas a guerra e o tráfego de escravos.


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Nos anos de 1957/1960, o ganho do homem africano era de 5$00 e 10$00 por dia e a mulher chegava a ganhar 1$00 diário, mais a alimentação que constava de 1kg de farinha de mandioca ou milho, 4 a 5 peixes secos e um pouco de óleo de palma.
Isto, enquanto um trabalhador branco com a mesma qualificação recebia 15 a 20 vezes mais.
Esta era a justiça e a igualdade real que se aplicava nas colónias portuguesas.

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Os africanos das ex-colónias tentaram a mudança pacífica, mas verificaram ser impossível. Nos anos de 1959 e 1960, assistiu-se a diversos metralhamentos em larga escala, efectuados pela polícia contra africanos, que correspondiam aos apelos nacionalistas para protestos e manifestações. A ditadura fascista tinha fechado a via do diálogo. A ditadura fascista mostrou com os seus actos de repressão que não seriam concedidas quaisquer reformas.

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A tomada de consciência dos militares de Abril continha o germe de uma luta longínqua contra o colonialismo, contra a guerra e contra as injustiças de um regime fascista discricionário e violento, não se dissociando, portanto, da luta do povo português contra a ditadura.
O povo português e as Forças Armadas estavam fartos de guerra, de defender uma guerra longe da sua pátria e a soldo de interesses imperialistas de rapina para engordar meia dúzia de famílias.
A fuga ao serviço militar tornou-se uma opção nacional e patriótica.

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A ditadura fascista de 48 anos foi derrubada porque não queria descolonizar.
O 25 de Abril seria, portanto, o fechar do cerco, o acontecimento que culminaria toda uma longa história de resistência, luta e esperança em Portugal e em África, à qual as Forças Armadas não podiam ficar indiferentes.
E decidiram pôr fim às guerras que travavam em África. Enfrentaram corajosamente a realidade.
O 25 de Abril foi uma vitória sobre a miséria, a exploração e a opressão, tanto em Portugal como em África.

José Jorge Sequeira Martins *
*Autor do livro sobre a guerra colonial Autópsia de uma operação»











ONDE ESTÃO OS HEROIS?

1 comentário:

  1. Como pode alguém querer perpectuar tal sofrimento com "paredes ocas, ou lá o que é?

    Em minha modesta opinião, os combatentes do Ultramar, não foram heróis mas sim desgraçados...e os que regressaram, ou vieram estrupiados, traumatizados ou embrutecidos!

    Penso que há sentimentos que acima de tudo se devem respeitar e não os usar para brilhar na praça pública (como o caso da Junta de Cordinhã).

    Os meus melhores votos de uma vida condigna com tudo de bom, para os Valorosos ex. Combatentes!

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